quinta-feira, 4 de junho de 2015

#431


Fragmentos - parte II
@ Largo dos Lóios, Porto

     
     E, depois, já não és quem foste sempre.
     Porquê?
     Não questiones. Não merece a pena.
     Até porque não voltarás a beber da mesma tinta,
     essa que, em tempos, te pintou o rosto.
     Nem voltarás a queimar-te na mesma chama,
     essa que, outrora, foi a que te incendiou a alma.
     Não procures em baús,
     não subas às águas-furtadas,
     não caves túneis no passado
     nem enveredes por caminhos velhos.

          És quem és agora. Só.
          E se o és, a ti o deves.
          (Mas sem ilusões, não só a ti!)
          És quem te permitiste ser
          de cada vez que as circunstâncias te cercaram
          e te amarraram o pensamento.
          Mas és, acima de tudo, quem te permitiste ser
          em todas as alturas em que o pensamento foi livre
          e se fragmentou
          e se elevou
          e se entregou nas tuas mãos.


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